EPISÓDIO 1 - O CAVALEIRO DE MIOJO

01/06/2012 00:15

Cavaleiro de Miojo

Por Julian VK

 

        A princípio eu deveria ficar feliz com o surgimento de um novo anime de Saint Seiya. Contudo não consigo evitar a distinta impressão de que Saint Seiya Ω não foi criado para os fãs da série, mas sim para angariar mais clientes, afinal de contas as pessoas que assistirem SSΩ se sentirão compelidas a comprar produtos da série, nem que seja ao menos os DVDs/Blu-Rays. Acho que isso está muito evidente e, de certa forma, é assim que funciona o mundo dos negócios, mas eu realmente esperava um pouco mais de fidelidade.
        Como todo anime, a cena inicial sempre é algo sem pé nem cabeça. Vemos Saori cuidando de um pirralho desconhecido e então subitamente um planeta surge no céu e um cara chamado Mars ataca. Podemos notar claramente que uma coisa não mudou: Athena continua sendo totalmente dependente dos outros, exatamente como lembrávamos. E adivinha quem vem salvá-la? Seiya... é você mesmo?
        Antes de prosseguir quero comentar dois pontos. Em primeiro lugar sobre o fato de que a equipe de animação me parece um bando de preguiçosos. Por quê? Bem, comecemos pela armadura de Sagitário que Seiya utiliza. Qual o ponto mais chamativa dela? Se você falou “as asas”, parabéns! Você é o grande vencedor! Porém, o que fizeram com elas em SSΩ? Depenaram a pobre armadura! Sinceramente, comparadas com as asas até mesmo do mangá clássico estão ridículas as de SSΩ! E provavelmente vão colocar a culpa no Kiki que fez um trabalho porco de restauração depois que Thanatos a transformou em pó. Mas nós sabemos que isso tudo é culpa dos animadores, desenhistas e afins.
        Depois temos o fato de que Mars quebra parte da armadura, mas em várias cenas depois disso Seiya aparece com ambos os braços intactos. Existe alguma justificava que não seja pura má vontade de fazer algo realmente minucioso? No fim das contas parece que querem só ganhar dinheiro investindo o mínimo possível.
        O segundo ponto que quero comentar é a respeito do “zazz”. Esse é um termo americano que significa o quão espetacular e chamativo algo é. Se um personagem tem muito zazz, então maiores as chances de que ele se torne popular... ou não. Asas, zíperes, capas, cachecóis, detalhes no cabelo, tatuagens, todas essas coisas contribuem para o zazz de um personagem, mas certas coisas são realmente desnecessárias. E o cachecol que colocaram no Seiya definitivamente ficou ridículo. E Mars então, com seu foguinho na cabeça? O que vem depois disso, Shun com maquiagem gótica?
        A luta de Seiya contra Mars ao menos foi interessante, sem conversas excessivas e “poder especial pra cá”, “poder especial pra lá”. E já que estamos falando de pontos bons, devo confessar que o remake da música de abertura antiga ficou muito bom. E Shina treinando o novo protagonista também foi uma excelente ideia, assim quem sabe ela finalmente seja vista como uma personagem útil.
        Então quer dizer que ignorando a aparente compulsão da equipe responsável pelo anime em adicionar enfeites a todo mundo, Saint Seiya Ω é um bom anime? Not exactly...
        A proposta inicial é, no mínimo, questionável. Kouga treina separado de tudo e todos, num local onde moram apenas Tatsumi (que ficou um bigode deveras assustador), Saori, Shina e o próprio pivete. Ele treina todos os dias para se tornar um cavaleiro, mas ele nem sequer sabe o que um faz, excetuando a parte de proteger Athena.
        Em resumo, eles mantêm o menino na mais completa ignorância, exceto com relação aos conhecimentos básicos para se tornar cavaleiro (incluindo aquela clássica explicação sobre o cosmo e os átomos). Agora, qual a vantagem de enganar Kouga? Por que não treiná-lo no Santuário, onde ele poderia socializar com seus futuros companheiros e aprender uma coisa ou outra com eles e outros cavaleiros?
        Não é como se ele tivesse um demônio raposa em seu corpo e revelar isso pudesse prejudicar seu crescimento como pessoa. Quero dizer, eu ACHO que ele não tem... E faço questão de comentar uma cena muito engraçada, quando Kouga diz que Seiya é um idiota (o que não deixa de ser verdade) e isso leva Shina a atacá-lo para valer. Ou seja, depois de tantos anos ela ainda é mal amada e não conseguiu superar isso. Triste, não?
        Mas o mais engraçado é que Kouga reage e dispara uma rajada cósmica. Por uma bobeira dessas? Isso foi o melhor que conseguiram pensar para uma cena em que ele demonstra sua capacidade? Uma briguinha com a mestra? Eu já vi futuros cavaleiros despertando o cosmo para proteger entes queridos ou para superar provações, obviamente motivados por emoções fortes, mas é a primeira vez que presencio um fazendo isso “no susto”. Não ficarei surpreso se um dia os mestres começarem a fazer comparativos entre o cosmo e o soluço em suas aulas...
        De todo jeito, grande parte do episódio só serve para encher linguiça e ajudar a completar o tempo necessário. As coisas ficam realmente interessantes somente quando Mars aparece outra vez – depois de despertar de seu sono de beleza – e exige que Athena vá com ele. Shina surge para batalhar e, quando ela é atingida por Mars, eu fiquei o tempo todo pensando mentalmente “A máscara dela vai quebrar”. É, Shina, você nasceu pra se ferrar, minha cara.
        E então eis que surge a cena que inspirou o título deste review. Quando Mars está prestes a levar Athena embora, Kouga tenta desesperadamente salvá-la, mas nada pode fazer contra a parede de chamas criadas pelo inimigo. Engraçado que ele mete a mão no fogo criado por um ser que enfrentou um cavaleiro de ouro praticamente em pé de igualdade e não sofre nenhuma queimadura grave. Foda-se a lógica.
        Quando tudo parecia perdido, o pingente que Saori usou o episódio inteiro responde ao espírito de Kouga e se transforma na armadura de Pégaso. Espere, a armadura estava dentro de um pingente? E como ficam as caixas das armaduras? E as estatuetas que são formadas pela composição das peças? Francamente, essa história de pingentes contendo armaduras faria mais sentido em Power Rangers do que em Saint Seiya.
        Imagine Naruto com Uchihas usando kekkei genkai a partir dos cabelos. Imagine Yu-Gi-Oh! com duelos de dados. Imagine os personagens de One Piece viajando em um dirigível. Imagine Death Note com Light Yagami recitando o nome de suas vítimas e a causa da morte para um microfone da morte. Parece estranho, não? Bem, é assim que eu me senti quando soube que as armaduras eram guardadas em colares em SSΩ.
        Mas pingentes místicos à parte, as divergências não param por aí. Por algum motivo Kouga, mesmo demonstrando um potencial no máximo “em desenvolvimento” para o uso do Cosmo, ele já se mostra capaz de lutar e até mesmo usar golpes especiais como o Meteoro de Pégaso a partir do momento em que veste sua armadura, algo que Seiya e Tenma só conseguiram depois que concluíram seu treinamento.
        Por isso eu chamo Kouga de cavaleiro de miojo. Ele já veio pronto, só precisou cozinhar para que ele virasse o novo Pégaso, ao passo que em Lost Canvas, por exemplo, passaram-se dois anos desde o momento em que Tenma demonstrou seu talento para manipular o cosmo até o dia em que se sagrou cavaleiro.
        Algumas pessoas podem apontar que o “espírito” de Seiya auxilou Kouga nesse momento, mas isso é apenas uma justificativa para um erro de roteiro: tudo ficou muito fácil em SSΩ. Enquanto que até mesmo no Clássico foi mostrado o quão difícil foi para os cavaleiros desenvolverem seus cosmos, aqui tudo vai acontecendo naturalmente.
        Só espero que Kouga não se torne um Sasuke do Shippuuden, recebendo upgrades a todo o momento sem realmente se esforçar para melhorar suas habilidades.
        A conclusão é muito simples: SSΩ é um anime capitalista, feito às pressas e sem respeito algum por suas raízes. Os responsáveis por ele vão enfeitar e mudar tudo for preciso para chamar a atenção da garotada. Colocar lutas cheias de ação e efeitos bonitinhos pra eclipsar o roteiro totalmente clichê e sem nexo (ainda mais se comparado com as outras séries de Saint Seiya).
        Mas pelo menos agora as armaduras das amazonas realmente passam a impressão de que protegem. Em ALGUM ponto eles tinham que acertar, certo?