O PARADOXO DOS ILUSIONISTAS

24/07/2015 13:57

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Dedicado a Katrinnae Aesgarius

 

        No período denominado Fase Santuário, em Hades, os cavaleiros remanescentes precisaram concentrar todas suas forças na tarefa de impedir o avanço das tropas de Hades, mas, em especial, seus antigos companheiros, agora na condição de renegados. Seria desnecessário discorrer aqui as temáticas já discutidas em nível de curiosidade, porque muitos assuntos já estão batidos, porém, há uma análise ainda a ser considerada acerca dessa passagem tão marcante: os diferentes contextos entre a abordagem de Kanon de Gêmeos e Shaka de Virgem, em se tratando de ilusões. Para termos uma prova real e um meio de comparar a passagem de ambos os casos de maneira concisa, buscarei fazer as mediações usando um personagem em comum nessas situações para facilitar o entendimento e, para isso, usar-se-á Saga como parâmetro.

        Antes de prosseguirmos, gostaria de justificar o porquê de usar Saga como parâmetro de comparação para a temática em questão. Embora não seja afirmado na série, existem algumas características notáveis que servem para definir o nível do poder de um ilusionista. A capacidade do ilusionista, por exemplo, de projetar uma ilusão a distancias [do local onde encontra-se] sem ser percebido e, de quebra, conseguir manter sua técnica ativada é, sem dúvidas, o ponto mais importante. Considerando o Clássico, Saga conseguia projetar uma ilusão poderosa a impressionantes dez casas de distância [do Salão do Mestre à Casa de Gêmeos], sem sequer ser notado. Teoricamente, Saga estaria num patamar acima da média, afinal de contas, Kanon acabou sendo desmascarado, quase que imediatamente [embora também tenha projetado uma ilusão da mesma distância que seu irmão], e localizado; e Shaka também não conseguiu ocultar-se a ponto de passar despercebido pela percepção de Saga.

        E por que disso? Ora, não precisamos pensar muito, não? Na condição de ilusionista, Saga também compreende perfeitamente como funciona uma ilusão, justamente por isso, consegue perceber com facilidade quando está sofrendo uma técnica do tipo [o mais interessante ainda é sua capacidade de perceber, com precisão irreal, a origem dos ataques]. Podemos citar o trecho do Clássico [capítulo 32: A miragem de gêmeos] em que Saga identifica Ikki, na Ilha Canon, mesmo estando na Sala do Mestre; talvez não tenha sido a toa que tenha descoberto, com precisão, os locais em que se encontravam Kanon e Shaka, durante a campanha na Fase Santuário.

        Em nível de referência, citarei o trecho ocorrido em Episódio G [capítulo 12: Aquele que o Libertará] em que Saga projeta uma ilusão na presença de Shura de Capricórnio, de maneira que este sequer conseguiu perceber qualquer anormalidade cósmica por parte do ilusionista. Essa citação fora feita unicamente para reforçar a facilidade com que este personagem projeta ilusões de maneira que sequer corre riscos de ser revelado, reforçando assim sua ampla experiência nesse tipo de técnica.

        Retomando a matéria em si, ora, então, o que teria de tão interessante envolvendo essas passagens de Kanon e Shaka, na Guerra Santa, para provocar a elaboração dessa análise? Primeiramente, deve-se atentar para a seguinte semelhança: ambos os cavaleiros, tanto Kanon como Shaka, buscaram impedir o avanço dos renegados através de uma técnica indireta, ou seja, em outras palavras, uma ilusão. O que fica evidente dentro dos limites do Fandom é uma cega idealização em favor a Shaka (por este ter obtido um destaque maior), que bloqueia uma interpretação devida dos fatos, contudo, há uma evidente “miragem” [em função desse fascínio] que impede um entendimento mais detalhado da situação. Enfim, qual a diferença tão em evidência acerca desse trecho? Enquanto Kanon não só se apresenta como adversário (ou seja, se identifica) sem ter sua ilusão percebida pelos renegados (principalmente, Saga, um mestre na área); Shaka simplesmente não se identifica, ocultando sua presença para que evitasse ser reconhecido e, com isso, desmascarado; porém, apesar de tê-los segurado por mais tempo, não conseguiu enganá-los como Kanon, uma vez que todos já tinham percebido uma presença em Câncer, assim como também tinham concluído que tudo se tratava de uma miragem. Em outras palavras, seu “tour” pelas imagens projetadas por Shaka só durou até descobrirem a origem das ilusões, pois, uma vez descoberto a origem, livrar-se da presença do ilusionista seria questão de tempo.

        Gostando ou não, Kanon conseguiu segurar por pouquíssimo tempo seus adversários, afinal de contas, os renegados já tinham atravessado a Casa de Áries quando Dohko ascende o Relógio de Fogo. Em outras palavras, num prazo de uma hora, Saga e os outros conseguem não só se infiltrar sem maiores problemas como, também, conseguem passar por sua primeira resistência: o Labirinto da Casa de Gêmeos, ilusionado por Kanon. Apesar de isso ser uma evidência é inegável que ninguém, nem mesmo Saga, conseguiu perceber que tudo se tratava de uma ilusão até o momento final.

 

 

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Enquanto, de um lado, Kanon concentrava-se em Saga, do outro, também teve de ilusionar tanto Camus como Shura, que ficarem presos no Labirinto de Gêmeos, que, em momento algum, percebaram que tudo se tratava de uma ilusão.

 

        Em Câncer, a conversa já foi outra. Primeiramente, antes de sequer terem colocado os pés na Casa de Câncer, os renegados já tinham detectado a presença de alguém protegendo o local [capítulo 72: O Mundo da Morte na Casa de Câncer]. Embora isso já permitisse que estivessem na expectativa de evitar um ataque surpresa, diferente da experiência anterior, ali o adversário não se apresentara. Aliás, ocultara-se. Apesar disso, nenhuma de suas técnicas foram sucedidamente aplicadas, uma vez que os renegados já tinham constatado que tudo se tratava de uma ilusão, logo, bastava descobrirem a origem do ilusionista para resolverem aquele problema.

 

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A única maneira de conseguir se libertar definitivamente de uma ilusão é atacando diretamente o ilusionista, o autor por trás do ataque.

 

        A grande questão envolvendo essa passagem está na omissão de Shaka como adversário, pois, uma vez que descobrissem a origem da ilusão, bastaria quebrar a concentração do ilusionista (tal qual como Ikki fizera com Saga, nas Doze Casas; e Saga fizera com Kanon, há pouco) para desfazerem a técnica. Contudo, Shaka ainda conseguiu se esconder por duas horas, atrasando-os, enquanto Kanon só conseguiu segurá-los por menos de uma hora. E, graças a esse feito, há um equívoco muito grande acerca das interpretações desse trecho, afinal de contas, por mais efetivo que tivesse sido, Shaka acabou sendo detectado por Saga e, invariavelmente, teve sua concentração desfeita, e a técnica anulada. Em teoria, Shaka [que estava mais próximo do local de projeção do que Kanon] exercera uma técnica paradoxalmente mais fraca que a de Kanon, mesmo tendo atrasado os renegados mais tempo. Isso se deve ao fato de que Kanon, mesmo projetando uma ilusão numa distancia muito maior que a de seu companheiro, conseguiu ilusionar seus adversários sem que sequer tivessem desconfiado da técnica, enquanto Shaka já tivera seu teatro arruinado, logo de cara.

 

 

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Mesmo após terem saído da Casa de Gêmeos, eles ainda não tinham percebido que estavam presos em uma ilusão. Tanto que Camus apenas sugere o Labirinto como uma causa qualquer, mas não como a razão real.

 

        E qual seria a interpretação mais adequada? Infelizmente, há diversas! Podemos considerar que Kanon seja um ilusionista muito maior que Shaka, uma vez que conseguiu enganar Saga, enquanto o outro não. Pode-se também julgar que Saga, por causa da experiência em Gêmeos, estivesse esperando por outra tentativa semelhante, logo, a abordagem de Shaka tenha sido menos eficaz por já estarem preparados. Também podemos seguir a linha de pensamento que defende novamente a ilusão de Kanon, já que este deixou clara sua presença no local [Clássico, capítulo 70: Relógio de Fogo! As chamas reacendem!], que, diferente de Câncer onde já concluíram que alguém ilusionava o local (praticamente, antes de entrar no local), este conseguiu ser mais sutil. Aliás, considerando que Kanon teve que dividir sua atenção em duas ilusões: Uma erguendo o Labirinto de Gêmeos para atrasar Camus e Shura, e outra para Saga, fica, realmente evidente, a diferença de nível entre ambos os ilusionistas, Kanon e Shaka.

 

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Mu percebeu a existência de uma força protegendo a Casa de Gêmeos, ou seja, Kanon deixou claro que apresentara-se como substituto do antigo guardião.

 

        ACERCA DESSA passagem é possível observar o nível dos ilusionistas de maneira muito clara. Apesar de estar enfrentando um mestre nas técnicas ilusórias, Kanon não só conseguiu enganar seu irmão e fazer Camus e Shura vagarem pelo Labirinto de Gêmeos, sem sequer levantar suspeitas, até o momento de sua revelação: Ele se utilizou de uma tática usada por Saga com tanta perfeição que o mesmo acabou sendo enganado (e olha que Saga é um mestre na arte da ilusão, conforme comentado anteriormente). Por outro lado, Shaka, mesmo tendo ocultado sua presença, tivera sua técnica rapidamente interceptada e, com isso, não conseguira obter maiores resultados sobre os renegados. Considerando ainda o fato de este último estar mais próximo da projeção de sua técnica que Kanon, fica ainda mais gritante a diferença de como cada um dos ilusionistas conseguiram proceder com suas artimanhas. Embora um tenha atrasado por menos há de se reconhecer que estava projetando a distâncias maiores e, que de quebra, teve êxito em sua técnica (mesmo tendo se apresentado); enquanto o outro, que atrasou-os por mais tempo teve percalços por não ter conseguido ser convincente, mesmo estando muito mais próximo do foco da ilusão e tendo se ocultado para não ser rapidamente derrotado.