CRITÉRIOS SOBRE ARTE

06/06/2014 22:46

Critérios sobre Arte

 

    No mês de março a revista Neo Tokyo lançou sua 95ª edição com um especial de cinco matérias sobre Cavaleiros do Zodíaco, falando praticamente de todas as obras publicadas (com exceção de Next Dimension). Como devem saber, o Quartel Canvete está resenhando os artigos da revista em função de sua baixa qualidade e, evidentemente, eu não poderia ficar fora dessa. Minha matéria não tratará sobre uma obra por completo – como os outros canvetes –, mas, sim, de um trecho em especial em que Renato Hack, colunista de The Lost Canvas, fala sobre a arte de Shiori Teshirogi em relação à de Masami Kurumada.

    Eis o trecho por ele comentado: 

 

"Algo questionado inúmeras vezes, referente à série clássica de Cavaleiros do Zodíaco, sejam por pessoas de língua afiada, fãs ou críticos, é quanto à qualidade do seu traço, com arte simples e várias distorções. Se você também for desses que se incomodam com a qualidade das ilustrações, Lost Canvas não será o problema, apresentando belos desenhos, aperfeiçoando certas características inclusive, como o aumento de detalhes nas armaduras dos cavaleiros. Contudo, um ponto negativo é sua arte escura, com excessos de retículas e arte-finalização, que interferem na melhor apreciação do mangá." - Por Renato Hack.

 

    Embora reconheça que o traço mangá é caracterizado por partes exageradas como olhos salientes, narizes pequenos e cabelos extravagantes, até mesmo, esse estilo, segue uma tendência ou padrão. Conforme comentado por Renato, o traço de Masami Kurumada é considerado simples e possui várias distorções, que, talvez por inexperiência na área por parte do colunista, não soube explicar tais “distorções”. Tentarei explicar a partir da imagem abaixo:

 

 photo SC03_096_zpsd1fcbeae.png

 

  Estabelecerei cinco critérios fundamentais para entendermos um desenho mangá. São esses:

  • Proporção - distância de cada elemento distribuído num cenário;
  • Inclinação - direcionamento dos elementos dentro da perspectiva;
  • Alternação - quantidade de mudanças e melhorias dentro da arte proposta;
  • Cenário - complemento ou acabamento da obra;
  • Arte Final - acabamento técnico e padronizado do traço;

 

    Demonstrarei com base nesses critérios as imperfeições de Masami Kurumada tendo a imagem acima como modelo. Observem o braço direito de Shiryu, que teve uma perspectiva inadequada para a cena ficando proporcionalmente errado em relação ao corpo. A mão direita de Shiryu está “mais próxima” da visão do leitor em relação ao resto, então, podemos perceber que está desajustada em relação ao corpo, que deveria seguir a mesma perspectiva e inclinação da mão. Na questão de alternâncias de posturas, Masami Kurumada mantêm sempre a mesma fórmula: personagem com um braço esticado (dando a entender que está atacando) e outro sendo torto no ar (dando a entender que foi atingido). Não existe uma grande variedade de posições ou expressões nos personagens devido à limitação do artista. Como último tópico (cenário) o autor explora mais esse recurso do que os outros pontos de seu trabalho. A Arte final de Masami Kurumada é simples, sendo que esse recurso deveria ser o mais explorado num desenho mangá. Também percebemos a ausência de sombreamentos (hachuras ou pontilhados, por exemplo) e sofisticação no traçado, ou seja, Masami Kurumada segue um único padrão de finalização.

 

 photo 38_zps68640094.png

 

    Ao contrário daquilo que Renato Hack disse: “(...) sua arte escura, com excessos de retículas e arte-finalização”, podemos ver (considerando a imagem acima) que na realidade é completamente o oposto. Em termos de proporção, a arte de The Lost Canvas beira ao realismo, pois respeita em todos os parâmetros técnicos a anatomia dos personagens, assim como os outros elementos distribuídos no cenário. A inclinação não foge da regra, por exemplo, observem o braço direito de Sísifo em relação à postura de seu corpo, assim como a observação do leitor, tudo dentro da perspectiva. Em termos de inovação, dificilmente encontramos cenas “repetidas” no mangá, pois a autora está sempre inovando na posição dos seus personagens, as expressões faciais e os cenários, “oxigenando”, por assim dizer, dentro da história. A arte final de Shiori Teshirogi não é “escura”, como afirma Renato Hack, é um acabamento extremamente sofistificado onde encontramos mais de um tipo de tonalização (oras encontramos pontilhados, oras encontramos hachuras), encontramos em cenas de perspectiva, alterações no padrão da arte final que faz alusão ao aspecto do personagem em determinada ação. Enfim, como diria o Dono da Verdade: “A culpa é do tamanho da folha de papel que de tão pequena não permite que se aprecie um trabalho tão bem elaborado em toda a sua grandiosidade.

    Bem, gostaria de dizer também que para criticar com profundidade determinada arte, precisa ter um mínimo de conhecimento tanto teórico quanto prático. Navegando pela internet em busca de informações sobre o colunista da Neo Tokyo, encontrei alguns de seus trabalhos.

 

 photo RENATOHACK_zps61f487af.jpg

 

    Este, caros leitores, é a história em quadrinho de Renato Hack – Andakaz -, que foi desenhada a mão e reticulada através de manipulação digital, conforme consta na página. Como alguém com esse nível básico de traço têm o atrevimento de criticar uma desenhista profissional como Shiori Teshirogi? Não preciso descrever aqui os critérios de análise de um trabalho, pois, certamente, os pontos negativos sobressairiam sobre os positivos (e têm positivos?).

    Portanto, como desenhista profissional (aluna há anos da Escola Porto Artes, especializada na formação de desenhistas), acredito que críticas direcionadas a arte ou estilo de traço, devem ser feitas com um mínimo de embasamento e por profissionais na área, não meros amadores sem nenhum tipo de conhecimento técnico ou teórico.

 

Por Jujovi Saguete