EPISÓDIO 46 - KOUGA E EDEN! DERROTEM A ESCURIDÃO, JOVENS COSMOS!

17/03/2013 17:28

Kouga e Éden! Derrotem a escuridão, jovens cosmos!

Por Lucas Saguista

 

 

        Embora os últimos acontecimentos de Saint Seiya Ω terem se superado com inacreditáveis coincidências e controvérsias ao universo de CDZ, devo reconhecer que dessa vez não houve tanta margem para contestação. Capaz. Em seu lugar houve legítimas transgressões a obra! Uma coisa é certa: acompanhar Saint Seiya Ω com a finalidade de analisá-lo faz com que desaprendamos (ou simplesmente não saibamos mais como identificar) o que pode vir a ser uma referência em uma obra.

        Uma homenagem repetindo de uma maneira criativa (ou assim deveria ser) algum acontecimento passado em outra obra (ainda mais com o teor de Saint Seiya, que é benquista na infância de todos) normalmente causa um impacto positivo na maioria dos fãs, pois faz com que lembranças e memórias já esquecidas sobre alguma parte em questão da série venha à tona. Uma referência, no entanto, apesar de ser muito positiva e normalmente fazer os fãs se emocionarem ao captarem sua mensagem comparando acontecimentos semelhantes de uma série a outra, deve sempre atentar para não cair no conhecido clichê. O clichê embora carregue por significado “placa gravada em relevo sobre metal, para impressão de imagens e textos por meio de prensas tipográficas” (segundo o Aurélio), ficou marginalmente conhecido em obras que abordem Saint Seiya como algo indiscutivelmente negativo. Infelizmente, essa maldita expressão se faz presente e muito vívida na maioria das obras de contextualização inferior no universo de Saint Seiya, principalmente, na animação do Ω. São sobre esses pontos que avaliaremos cuidadosamente a análise acerca do episódio 46: Kouga e Éden! Derrotem a escuridão, jovens cosmos, me acompanhem em mais uma análise dessa série catastrófica.     

 

        Ódio! Você precisa de ódio!

 

        Quantos de vocês relacionaram a batalha dos Cavaleiros de Bronze contra Marte com a luta de Seiya de Pégaso e Ikki de Fênix contra Saga de Gêmeos? Se o fizeram por algum motivo (mesmo tendo convicção de que o fizeram) não se constranjam, pois existem muitos elementos nesse episódio que nos remetem ao final da batalha das doze casas clássica. Acompanhem-me na garimpagem desses elementos das outras obras à medida que comparamos e rememoramos os acontecimentos desse episódio, mas cá entre nós, haja paciência para tanta “latinice”.

        Convenhamos e sejamos francos: Mais cedo ou mais tarde os roteiristas dessa série trabalhariam (mesmo que por alguma sorte) os motivos de Éden ter trocado de lado e ter se posicionado contra o pai. Mais que isso, justificaria através de alguma razão os sentimentos do garoto para tomar essa tão drástica decisão contra alguém que, até o momento, seguia convicto em sua obstinação de um “mundo” melhor. Entretanto, invés de elaborarem uma referência plausível aos acontecimentos de outras obras ou inventarem ao menos um enredo autêntico os roteiristas caíram derradeiramente - novamente - na desgraça da xerocagem mal impressa.

 

Acha que pode me superar com esse poder? Com esse poder de uma pequena raiva? Você precisa despertar o ódio do fundo do coração... Sentir uma tristeza que parece destruir seu corpo... Para quando a verdadeira fúria dominá-lo, a escuridão de seu coração nascerá das profundezas de seu ódio. Com isso, a escuridão e essa fúria se tornarão o seu verdadeiro poder de destruição!” – Por Marte aos 6min33seg do episódio 46. 

 

        Alguém lembra de uma personalidade em Saint Seiya – Clássico – com esse mesmo discurso? De que o ódio era a fonte infinita de poder e o único caminho para alcançá-lo? Se não lembra, vos ajudarei a lembrar:

 

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Trecho retirado do mangá de Cavaleiros do Zodíaco Vol.7

 

        As semelhanças entre Éden de Órion e Ikki de Fênix são praticamente escancaradas e apresentadas sem maiores receios e preconceitos pela equipe de Saint Seiya Ômega – ponto que discutirei nos próximos tópicos. Basicamente, Éden herdou todas as características e singularidades que desenvolveram Ikki de Fênix, ainda mais, quando a série se direcionou para sua “reta final” onde buscou explorar mais o personagem.

        Por incrível que pareça estou tão impressionado quanto qualquer um de vocês que acompanha essa matéria que um personagem como Guilty, mestre da Ilha da Rainha da Morte e de Ikki, tenha sido usado como referência em Ômega para a contextualização de Marte. Os instantes iniciais de confronto entre pai e filho e os choques de idealizações mostraram a intensidade da influência de um personagem (Guilty) sobre outro (Marte) dentro da trama apresentada. Embora muitas sejam as afirmações que envolvem (e protegem) os motivos do “deus” da Guerra ter base para pensar e agir conforme suas crendices, se atentarmos para a contextualização dentro da trama da série em comparação com a obra pioneira, encontraremos o verdadeiro fator influenciador.

 

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    Ikki só resolve enfrentar Guilty verdadeiramente após este ter assassinado Esmeralda; essa mesma situação surge (ou repete-se) em Saint Seiya Ω onde Éden só resolve fazer um autodiagnóstico e se levantar contra Marte após Ária ter morrido em combate contra o deus. Conforme afirmo sempre: as referências quando usadas sabiamente são sempre benquistas entre os fãs, contudo, convenhamos que esse tipo de “homenagem” (onde os elementos envolvidos são sempre tão óbvios e previsíveis chegando uns a serem praticamente palpáveis para muitos fãs) acaba sendo vista como outro clichê mal empregado. Um verdadeiro desperdício de potencialidade.

 

        Esmeralda e outra pedra preciosa...

 

        Muitos personagens servem de suporte e alicerce para a transformação e desenvolvimento da história, mas, principalmente, alguns personagens. Isso por que normalmente são usados como base concreta para o amadurecimento e contextualização de outros. Esses elementos se repetiram em Saint Seiya Ômega com o único personagem que emprega uma proposta semelhante à de Ikki: Éden de Órion.

        Assim como a dor da perda transformou e desenvolveu a personalidade e o temperamento de Ikki, a morte de Ária, embora essa personagem tenha sido mais “aproveitada” (pelo menos tentaram...) em relação a Esmeralda, foi crucial para a transformação e amadurecimento de Éden, assim como seu posicionamento decisivo na guerra. É interessante e fundamental fazer essas reflexões, pois são essenciais para o compreendimento da série uma vez que todas as características exploradas em Éden se assemelham a de Ikki.

        Voltando a analisar sucintamente a questão dessas duas personagens que serviram de base para a construção de outros dois importantes personagens em ambas as séries, Esmeralda e Ária acabaram tendo uma participação muito semelhante (beirando a coincidência...) nas obras. No quesito de participação e enredo, Ária teve uma participação muito maior que Esmeralda, obviamente, porém, no quesito de importância para o enredo de terceiros, ambas foram essenciais. Não procurarei explorar profundamente essas personagens, mas salientarei alguns pontos para a reflexão dessa tese que são os seguintes:

 

  • Questão da Convivência

     

        Ambos os personagens conviveram e sofreram forte influência por meio da visão idealizada de mundo de Ária e Esmeralda, onde tanto os sonhos como as expectativas futuras foram compartilhadas. Ikki, por exemplo, era um garoto sozinho que teve como única amiga a doce Esmeralda que era escrava de um criador de porcos. Vendo por essa mesma perspectiva não chegamos à conclusão de que essa história não se repetiu em Ômega? Por acaso Éden também não era um garotinho sozinho que tinha como única companhia a confinada Ária? Ária, assim como Esmeralda, também não era escrava de Marte? Marte também não era “dono” da garota?

 

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  • Questão de Valores

   

        Para o favorecimento do roteiro e desenvoltura da história tanto Esmeralda como Ária foram sacrificadas, entretanto, suas mortes foram necessárias para a evolução e mudança de Ikki e Éden. A dor da morte trágica pelas mãos do mestre estimado (Esmeralda) e do pai amado (Éden) fez com que ambos os garotos herdassem a visão sofrida e sonhadora dessas meninas, enriquecendo em vários pontos a perpetuação do roteiro deles na trama.

 

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Trecho retirado do mangá de Cavaleiros do Zodíaco Vol.8

 

        O grande diferencial que separa os casos desses garotos é que Ikki, que era bom, perdeu-se do caminho e após um auto diagnóstico (tratado em tópicos a seguir) voltou a seguir o caminho certo, enquanto Éden foi o oposto, uma vez que seguia Marte acreditando estar lutando pelo bem, quando na realidade estava contribuindo para o mal. Ressalto com isso que ambas as garotas foram essenciais para essas mudanças nos valores deles.

 

  • Questão da Morte

   

        A grande questão nessa parte que levou a mudança drástica desses garotos foi o causador da morte. Embora muitos discordem pela agressividade e indiferença de Guilty para com Ikki, ainda assim, este tinha um grande reconhecimento por seu mestre diferente do caso de Éden, que tinha o apreço da família. Como ambas foram mortas por pessoas da qual nutriam um grande reconhecimento, o choque e o trauma da impotência acabaram modificando terminantemente suas personalidades.

 

  • Auto Diagnóstico

           

        Em seu tempo, cada um teve sua oportunidade de repensar em suas escolhas e avaliar essas questões sofrendo forte influência dessas personagens. A única diferença crucial de um para o outro foram os períodos, ou seja, o tempo e a ocasião que levaram para reverem seus conceitos e encontrarem seus caminhos sob influência das palavras idealizadoras daquelas que os motivaram em outrora.

 

Éden: "A fúria que eu senti quando perdi a vida que eu deveria ter protegido a todo custo! E, naquele momento, eu perdi meu amado pai também!"

 

        Vejam, por acaso essa situação não foi idêntica à mudança de Fênix quando venceu Guilty? A conscientização de Éden, no entanto, é um pouco mais complexa e vai se modificando e evoluindo ao passo que amadurece junto com seus princípios à medida que os episódios se desenvolvem. Ikki também passou pelo mesmo processo, mas de maneira mais radical e agressiva logo após ter sido vencido na batalha no Monte Fuji, onde revê seus conceitos definitivamente voltando a trilhar o caminho correto.

        Por mais que tenham uma participação mais amena, essas duas garotas foram essenciais para o crescimento desses dois grandes personagens.

 

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        Identidade dos exércitos

 

        Não irei explorar muito esse ponto, pois seria uma verdadeira perda de tempo, mas ainda assim não posso deixar de comentá-lo nessa análise. Alguém aqui lembra o do marciano do esquadrão de espionagem Oldyckia de Mantis? Ou Ragno de Aracne? Ou aquele outro que parecia o Heracross? Enfim, diferente da organização do exército de Athena, o exército de Marte, no entanto é indefinido. Simplesmente é descentralizado e, pior que isso, é sem qualquer tipo de identidade.

        Até hoje me pergunto como funciona as referências desse escalão, uma vez que Sônia era de Vespa e Oldyckia de Mantis, mas nunca fora mostrado o restante. Como se define a ordem do exército marciano uma vez que pouquíssimos se destacaram? Marte dependeu muito mais da traição dos Cavaleiros de Athena do que da força de seu próprio exército. Agora, o mais intrigante, esses “marcianos” despertaram como os espectros de Hades? Levanto essa situação pelo fato de uma quantidade absurda desses guerreiros genéricos aparecerem para lutar (apanhar) na mansão de Áries e conseguirem, mesmo sendo totalmente ignóbeis, segurar dois Cavaleiros de Ouro num total de onze horas.

        Levantei essa discussão, porque em momento algum Marte prometeu para aqueles infelizes alguma segurança em seu paraíso particular. Mesmo lutando sem saberem quais são os projetos de seu senhor e sem qualquer promessa que os motive a isso, ainda assim, continuam lutando em seu nome até o último soldado. Interessante, não é? Um exército enfadonho que parece se multiplicar como se fossem baratas e, mesmo no auge de suas inutilidades, conseguem entreter por longas onze horas dois Cavaleiros de Ouro. Querem algo mais intrigante que isso?

 

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Trecho retirado do Vol.7 de Saint Seiya - Episódio G

 

        Só para fins de comparação, alguém lembra do exército dos Titãs que tentaram invadir o Santuário? Lembram que esses guerreiros de hierarquia inferior conseguiram rivalizar com Marin, uma amazona de prata? Justamente, esse mesmo exército investiu contra o Santuário uma segunda vez e foi recepcionado por Shura de Capricórnio, um único Cavaleiro de Ouro, que em instantes, aniquilou não somente todos esses guerreiros como também um dos Gigas, que são infinitamente superiores a esses. Se um único Cavaleiro de Ouro foi capaz de fazer isso como dois Cavaleiros de Ouro não o fizeram contra meros subalternos sem identidade e poder algum? São essas extravagâncias que mais revoltam em Saint Seiya Ômega, pois, os roteiristas acreditam firmemente que dois dourados perderiam onze horas para lidar contra meros guerreiros sem valor.

 

        União de Intenções

 

        Aquela cena clássica onde o herói protagonista reafirma suas crenças diante a imagem de todos aqueles que lhe apoiaram e lhe deram forças para seguir adiante. Isso aconteceu em Saint Seiya Clássico no final marcante da emocionante batalha das Doze Casas e também em The Lost Canvas na queda de Alone. Essa mesma cena é reproduzida em Saint Seiya Ω, entretanto, não surtiu o mesmo efeito e o mesmo impacto naqueles que vêem, pois a situação em que Kouga se encontrava nem fora tão explorada para se transformar em algo emocionante. Enfim, perderam uma grande oportunidade de aproveitar esse momento para fazer dele algo surpreendente.

 

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        Questão dos Deuses

 

        Reservei esse tópico para falar no encerramento dessa análise, apenas para fazer algumas pinceladas do que me aprofundar no assunto em si. Não darei maiores atenções pelo fato de termos descoberto no episódio que antecede esse que o “despertar” de Marte é algo que se opõe completamente ao descrito no Hypermito.

 

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Trecho retirado do Hypermito.

 

        Embora deixe essa discussão dos deuses alheia, irei discutir algo mais próximo de nossas experiências no universo de Cavaleiros do Zodíaco. Seja na conhecida Saga Clássica ou nas outras obras complementares a ela, todos os combates ocorridos entre humanos e deuses sempre seguiram um padrão, um sistema, praticamente irreversível: A invencibilidade dos deuses.

        Não que sejam “invencíveis” (pois o exército de Athena jamais venceria), mas diante de ataques humanos e ofensivas estas divindades se mostram tão superiores em combate que chegam próximos a invencibilidade. Foi somente eu ou tiveram mais pessoas que acharam deveras estranho (para evitar dizer “contraditório” toda a hora) Marte ter seus ataques rebatidos, evitados e superados por golpes de Cavaleiros de Bronze? Só eu reparei que ele em momento algum rebateu um ataque de um deles como as maiorias dos deuses fizeram até agora?

        Em todas as obras envolvendo o universo de Cavaleiros do Zodíaco sempre exploraram essa superioridade dos deuses em relação aos humanos, entretanto, em Saint Seiya Ômega a equipe de roteiristas ignorou completamente esse artifício deixando em dúvidas o poder incomensurável dos deuses. Infelizmente, não estamos tratando com uma equipe decente, mas sim, com uns aproveitadores que ao menos buscaram analisar as outras obras antes de saírem animando qualquer coisa e colocarem o nome de Saint Seiya.

 

E com isso encerro a minha análise de Saint Seiya Ω episódio 46.