A ascensão do Quartel Canvete

11/01/2020 02:38
Por Lucas Saguista
 
 
Finalmente, após tanto tempo, tiro a ferrugem das juntas dos dedos e atualizo a página inicial deste site. A sensação de nostalgia é tão saudosa quanto capciosa: se por um lado, estar "arrumando a casa" parece ser uma decisão sábia a se fazer, já que provamos mais uma vez que não estamos velhos demais (embora hoje sejamos um dos grupos mais antigos da internet ainda em função neste meio de scanlators matendo sua unidade de equipe - se não o mais) para trabalhar com tradução de mangá e outros projetos; por outro, é como se estivéssemos mexendo num vespeiro ou, como faria o Pequeno Príncipe, revolvendo um vulcão adormecido, ou não. 
A verdade é que todas essas sensações misturadas num filme mudo de flashes e situações vividas nos levam até o apogeu disso tudo, até setembro de 2017, onde simplesmente não se tinha como prosseguir com o Quartel Canvete num clima de tanta hipocrisia e patifaria... Estou falando do marco daquele ano promovido pela editora JBC: a Despublicação de Mangás, uma caça as bruxas gratuita aos grupos de Scanlators, com direito a opinião de youtubers (devidamente pagos para abrirem a boca e contribuírem para com a causa da editora, mesmo quando a maioria destes se valia dos trabalhos dos scanlators para fazerem seus vídeos de reacts e análises) e processos judiciais. 
O Quartel Canvete não deixou barato. 
Nos orgulhamos de nossa trajetória, porque construímos no decorrer desses anos algo tão grande quanto nossa amizade: construímos um legado, alicerçado ao nosso trabalho, e valores. Fizemos muito mais do que simplesmente registrarmos nossas opiniões em redes sociais alheias (apesar de alguns blogs da vida atacarem-nos com piadas e disparates, como se fossem donos de uma razão questionável), entramos em contato com a própria Shueisha, e tal denúncia realizada por nós, e por nós, deu frutros. O mercado editorial brasileiro parece que está aprendendo aos pouquinhos a como se relançar os quadrinhos japoneses em qualidade que simula aos lançados lá, afinal... Bem, isso é história para um outro artigo, mas a grande verdade é que quem desferiu o derradeiro golpe contra a despublicação de mangás naquele período não foi outro senão nós mesmos - bater de frente com um grupo que possui em seu âmago um tradutor de japonês não é uma boa ideia
Porém, nossos ânimos ficaram no limite - e, pela primeira vez, eu fui o primeiro a me retirar. 
Todos os projetos ficaram parados, e nada parecia ser sugestivo o suficiente para fazer-nos retomá-los sob hipótese alguma. Ora, não era para menos: Nossa parceria com a Project resultou com um Gia assumindo de uma hora para a outra o nosso projeto do Saint Seiya quando estávamos no lançamento do capítulo 26; nossos perseguidores nos pondo em situações lamentáveis (e não estamos falando de perfis fakes nos mandando ameaças e intrigas pelo facebook) contra grupos como a SKD Scanlations, valendo-se de acusações irracionais como "roubarmos o trabalho deles e cobrarmos quantias em nosso site"; afastamento de alguns membros e problemas técnicos em computadores de membros ativos. Tudo isso permitiu para que freiássemos naquele momento.
Mas eu sabia que voltaríamos.
Eu sabia que seria uma questão de tempo para regressarmos, e a ideia voltou um ano depois, em setembro de 2018.
Acredito que poucos saibam disso, mas o que nos motivou a regressar com nosso projeto de tradução e edição de mangás foi ter o conhecimento que crianças hospitalizadas (alguns vítimas de polio, a maldita paralisia infantil, que eu julgava ter sido completamente extinta) ocupam parte de seu tempo (senão todo o tempo) lendo os mangás que são traduzidos pelos tão malvados scanlators e suas "piratarias do mal". Saber disso me preparou psicologicamente para pensar no Quartel Canvete novamente como um grupo de produção, e não só um bando de nerds reunidos para jogar Friday 13 th, pela Steam. 
Voltamos, então, em 2019, com a equipe reduzida, porém, focada e poderosa (talvez a versão mais assídua do QC):
Caetano como tradutor principal do projeto de Whistle;
Julian como tradutor secundário e tesoureiro;
Leonardo Rossi como letrista;
Mateus Klein como principal editor;
E, claro, eu cuidando dos lançamentos, do letramento dos projetos secundários e da hospedagem.
Antes de prosseguir  é necessário revelar uma coisa: antes mesmo do QC voltar a ativa, dominamos o Vietnã, algo que nem os Estados Unidos conseguiu fazer, e tal feito mudou drasticamente nosso alcance via internet. Não é zoeira, estou falando de maneira categorica. Contudo, quando olhamos nosso catálogo percebemos uma coisa (e tal noção fez com que fôssemos ridicularizados por paspalhos via twitter e alguns ordinários em fóruns): Cavaleiros do Zodíaco, os projetos dos quais estávamos trabalhando como Episódio G Assassins, Saintia Shô, Kurumada Suikoden Hero of Heroes e Next Dimension; nada daquilo era atrativo para qualquer um de nós. Foi como se alguém tivesse dado um clique em todos nós e, de uma hora para a outra, tudo envolvendo Saint Seiya parecesse dar um gosto de amargo na boca. 
Ora, Episódio G Assassins é um mangá cujo autor conseguiu desenhar tanto quanto por diálogos rebuscados, afastados de qualquer explicação lógica que dê para o leitor a mínima noção do porquê de sua existência, ao ponto de que hoje está para ser finalizado, enquanto sua proposta continua uma incognita;
Saintia Shô é a prova de que um mangá bem desenhado, mas desprovido de uma proposta concreta e um roteiro fundamentado de nada adianta. Eis um mangá com um traço bonitinho, mas que não passa disso, afinal de contas, não acrescentou em nada ao multiverso de Saint Seiya. Sequer conseguiu fazer com que as protagonistas conseguissem cair nas graças do público, uma vez que o mangá só parecia avançar à sombra do aparecimento de personagens clássicos. 
Next Dimension dispensa comentários...
Foi por não termos mais qualquer afinidade com as obras atuais do multiverso de Saint Seiya que decidimos deixá-los pra trás - e tal decisão pareceu acertiva, pois não recebemos mais mensagens oriundas de um certo fake que deu origem ao Homem do Rodo... Portanto, hoje, estamos trabalhando com Whistle, de Daisuke Higuchi. E ainda no primeiro semestre desse ano vamos trazer outros títulos como Kuro Somato e Acca 13. 
Além disso, estamos com uma parceria com o Canal da Fantasia, e agora o Quartel Canvete possui uma equipe formada exclusivamente por dubladores. Ou seja, apesar de 2017 ter sido um ano de decadência para o grupo, 2018 se mostrou um ano bom para reflexão e, apesar dos pesares, 2019 foi o ano do Quartel Canvete. E graças a nova equipe formada pela geração Antônio-chi: Antonio Corregiari, Mateus Oliveira (Zarzas), Fanny Ledo, Eduardo Maia, Marcio Oliveira, Hellouise Portugal, Mateus Dias, Paulo Piazza, Yan Scofield, Ana Azzolino, Rafael Stallone, Gabriel Fink, Diego Piaba, Gabriel Tilliman, Gustavo Sandri, Tatiana Lins, Gabriel Galvão, também contamos com Dionei Rezende, como nosso parceiro. Sendo assim, espero que esse ano seja propício a todos nós.