OITAVO SENTIDO E O PÓS-HADES

08/06/2014 02:21

Oitavo Sentido:

O Pós-Hades

 

 

        Apesar dos leitores de Saint Seiya estarem acostumados com o estilo simplista de Masami Kurumada de conduzir sua trama e elaborar seu roteiro, deve-se reconhecer que a morte do protagonista na última Guerra Santa foi o acontecimento mais anticlimático do mangá. Não que outros personagens fundamentais não tivessem sido sacrificados – sendo alguns, de maneira completamente fútil – para o desenvolvimento da história, aliás, algumas mortes podem servir de crescimento e amadurecimento psicológico, entretanto, não estávamos preparados para vermos o sacrifício de Seiya de Pégaso.

        Considerando o encerramento de Saint Seiya como o final de um ciclo de batalhas, as obras posteriores, especialmente, as que deveriam narrar os acontecimentos “pós-Hades” acabaram por não seguir essa linha. Considerando o Prólogo do Céu como o precursor dessa temática, a partir deste, todas as continuações – Next Dimension e Saint Seiya Ω – seguiram esse modelo, desconsiderando a morte de Seiya (e Saori, por tabela) e seguindo com a história normalmente. Entretanto, como puderam continuar um segmento de uma história desconsiderando os fatos anteriores? Acompanhe-me na possível explicação para essa situação no decorrer desse artigo.

 

  • Enquanto o cosmo queimar

 

        Esse comentário é sem sombra de dúvidas um dos mais representativos da franquia. Não é para menos, como a explosão da vida de um cavaleiro é comparada ao universo, essa frase simboliza a esperança, pois, enquanto o cosmo queimar, os cavaleiros poderão sempre se reerguer e gerar milagres. Vemos uma explicação disso no primeiro capítulo – Os Cavaleiros de Atena:

        “Seu corpo, Seiya, é um microuniverso nascido do Big Bang. Os Verdadeiros cavaleiros desenvolvem uma força sobre-humana por causa da explosão do universo que eles contêm. Assim, podem rachar as montanhas e pulverizar as estrelas.” ~ Por Marin em Os Cavaleiros de Atena, capítulo 1.

        Portanto, como podemos ver, a chama da vida de um cavaleiro é o cosmo, ou seja, o grande universo existente no interior de cada um desses guerreiros com poderes sobre-humanos. Em outras palavras, quando o cosmo deixa de queimar significa que a vida desse cavaleiro se extinguiu, em outras palavras, morreu.

 

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  • Pégaso morreu em vão;

 

    Falando brevemente acerca da proposta desse tópico, afinal, não estamos aqui para avaliar a autoridade ou a existência desse olimpiano, pelo contrário, essa abordagem só tem como objetivo relembrar mesmo sua posição de divindade do Submundo. Apesar dos deuses de Saint Seiya – como sabem, essa Mitologia teve alguns ajustes poéticos para se enquadrar na proposta da obra – não serem oniscientes, ou seja, não estarem sempre por dentro de todos os fatos (como o Deus cristão, por exemplo), eles desempenham determinadas funções das quais possuem comando ou regência. Portanto, Hades, ao anunciar a morte de Seiya, deixa ainda mais evidente o fator morte e, consecutivamente, exclui a possibilidade de uma sobrevida.

 

 

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        Um detalhe antes de encerrar, apesar da Espada de Hades amaldiçoar as almas das vítimas, ela também causa danos físicos. Realço essa questão ao lembrar os danos por ela causados nas Armaduras Divinas.

 

  • Arayashiki;

 

        Conforme discutido no artigo lançado em setembro do ano passado – OIA: Análise sobre Oitavo Sentido, Ikhor e Armadura de Atena – o Arayashiki só pode ser alcançado na morte – salvo alguns casos em particular – e, ao despertá-lo, fica-se livre da influência de Hades, ou seja, o indivíduo fica consciente e pode agir livremente. Aquele que atinge esse desenvolvimento cósmico, então, tem total liberdade de atuação, ou seja, teria uma sobrevida no Submundo ou, possivelmente, uma “ressurreição” (em análise).

        Como sabemos – e isso não é duvida para ninguém – em Next Dimension, praticamente, todos os protagonistas envolvidos no combate nos Elíseos sobreviveram, inclusive, Saori, que cortou a própria garganta com a Adaga de Ouro. Não entrarei nos devidos méritos acerca do autor por trás da Adaga de Ouro, pois, enquanto o Clássico é afirmado que este artefato foi ofertado a Saga por Hades, em Episódio G, em contrapartida, este foi oferecido por Cronos. A única coisa que temos que nos apegar, nesse momento, é que, independente da divindade por trás desse artefato, a Adaga Dourada é uma arma divina, ou seja, uma arma capaz de tirar a vida de um deus.

        Conforme vimos, Saori havia lançado um xeque às tropas de Hades ao praticar suicídio, já que assim, poderia alcançar o Oitavo Sentido e, com isso, caçá-lo no Submundo sem ser interrompida. Tecnicamente, o corpo material de Saori morreu na Terra, afinal, esta cortou a própria garganta, ou seja, na prática, nem deveria estar presente em Next Dimension.

        Outro detalhe importante: “Se eu desaparecer, tudo o que construí até agora desaparece comigo... O Inferno, os Elíseos e o Paraíso... Atena... Vocês serão tragados pela destruição desse mundo! Vocês também vão desaparecer...” – Por Hades no Havia um mundo repleto de luz, no capítulo final. Recapitulando, não somente Seiya e Saori, os outros protagonistas também morreriam com a destruição dos Elíseos, o que faria sentido a frase de Hades ao afirmar que eles não tiveram uma vitória completa. Entretanto, lá estão eles, atuantes e vivazes em Next Dimension como se nunca tivessem sido ameaçados pela morte. Afinal, a qual fenômeno deve-se esse milagre?

        Evidentemente, a própria condição do Oitavo Sentido, que não somente permite a consciência após a morte, ou a liberdade de ações no Submundo, mas, sobretudo, o poder da ressurreição. Com isso, ficam evidentes alguns detalhes que não foram explicados, tais como Saori estar viva em Next Dimension, apesar do seu corpo ter morrido durante o combate das casas, ou, Seiya, que levou um golpe certeiro no coração, estar resistindo (ou sobrevivendo).

        Por ter atingido o Oitavo Sentido (independente das vias), Seiya não poderia morrer, uma vez que este superou a questão do fatídico e, assim, as margens de erro de Next Dimension (sobre essa parte) cessariam, entretanto, existe uma falha no próprio Clássico, que deixa em xeque essa abordagem.

 

  • Onde está Kanon?;

 

        A essas alturas do campeonato as cabeças de vocês devem estar trabalhando a milhão, não? Ora, como pode existir uma incoerência no Clássico acerca dessa parte (obviamente, esse pensamento representa uma parcela de fãs mais resistentes, não quer dizer que todos pensem assim...) sendo que o autor não fez absolutamente nada parecido com a proposta de Next Dimension pra ter, de fato, uma contradição. Acompanhem-me na releitura, Shaka de Virgem morre e desperta para o Arayashiki, na seqüência, outros despertam esse cosmo na travessia do mundo dos vivos com os mortos. Em tese, morreram e despertaram esse cosmo, ou seja, em outras palavras, não tinham como morrer novamente (até por que, encontravam-se no Submundo) já que despertaram tal poder.

        Entretanto, alguns casos intrigantes aconteceram no proceder dos acontecimentos, como, por exemplo, o desaparecimento de Kanon de Gêmeos após a Explosão Galáctica. Como sabemos, os espectros são selados no rosário, ou seja, não existe a possibilidade deles atingirem outro estado cósmico ou outro recurso, pois são imediatamente selados. Agora, Kanon havia despertado o Oitavo Sentido na passagem dos mundos, então, onde nosso simpático anti-herói foi parar? Kanon não podia morrer, pois atingiu o Oitavo Sentido, então, deveria continuar no campo de batalha só que sem seu corpo físico, assim como Shaka de Virgem.

        Infelizmente, não foi somente o caso de Kanon, os outros dourados que se reuniram na derrubada do Muro das Lamentações também desapareceram após a onda de choque, o que deixou a dúvida sobre a extensão do poder do Oitavo Sentido. Afinal de contas, se ao atingir o Oitavo Sentido, seja em vida ou após a morte, os cavaleiros ficam livres da influência de Hades e podem agir com liberdade, como poderiam “morrer” novamente? Se após o despertar desse recurso cósmico, ainda existisse a possibilidade de morrer, então, Seiya teria morrido durante o combate realmente?

 

  • Reflexões Finais;

 

        Conforme vimos, essas questões da sobrevida dos protagonistas nas continuações não ficaram bem explicadas, em função de detalhes essenciais para o entendimento do contexto. Não seria uma questão de atribuir esses feitos aos benefícios do Oitavo Sentido somente, afinal, alguns pontos ficaram confusos ou mal explicados no próprio contexto do mangá. Tendo os outros dourados despertado tal recurso cósmico, era de se esperar que estivessem em atividade até a conclusão nos Elíseos, pois, a própria condição de despertar tal cosmo impossibilita uma morte, ainda mais, estando estes no Submundo propriamente dito.

        Com isso, chegamos a uma possível explicação sobre a ressurreição de Saori em Next Dimension, assim como a questão da sobrevida dos outros protagonistas (e, claro, o motivo de Seiya permanecer sobrevivendo após o ataque sofrido pela espada). Apesar da situação envolvendo o desaparecimento dos cavaleiros de ouro – que foi dado e encarado como morte na obra – deixar nebuloso esse ponto do artigo, devem-se considerar outras possíveis teorizações, como, por exemplo, a quantidade incalculável de energia sofrida (tanto na Explosão Galáctica, que Kanon encontrava-se desprotegido, como na explosão do Muro das Lamentações) ou, até mesmo, a situação do Ikhor (mais informações em OIA), que, em algumas obras, possui o poder regenerador e transformador.

 

Por Lucas Saguista